Casos graves de dengue acendem alerta na Bahia

Até julho, oito cidades baianas apresentaram óbitos pela doença

Dengue hemorrágica já é causa de seis mortes na Bahia em 2023. Crédito: Bruno Concha/Secom

O índice de ocorrências de dengue na Bahia tem causado preocupações entre a população. Entre janeiro e julho, o número de casos da forma grave da doença já é 168% maior que o mesmo período do ano passado: de janeiro a julho, foram 670 casos, enquanto, em 2022, foram 250. A informação é da Diretoria de Vigilância Epidemiológica da Bahia.

Para Márcia São Pedro, diretora da Vigilância Epidemiológica, o combate à dengue depende de uma ação intersetorial. “O município tem o papel de verificar o índice de infestação, realizar limpeza urbana, identificar e tratar focos no município. O inseticida é sempre fornecido pelo Ministério aos municípios, então não tem falta, o município pode, sim, tratar. E tem o papel da população, que é ter cuidado, não acumular água e deixar os vasilhames fechados, por exemplo, para que possamos prevenir. E o estado continua fazendo a vigilância ativa e dando todo o suporte necessário”, afirma.

Uma das pessoas que sofreu com os sintomas intensos foi Guilherme Almeida, de 12 anos. Quando ele começou a sentir fortes dores de cabeça, sua mãe, Ana Carla Santos, 40, logo levou o jovem à emergência, onde os médicos disseram se tratar de uma virose, comum no fim do verão. Entretanto, como a desconfiança permanecia, ela resolveu solicitar um exame de dengue, e lá teve a resposta: o caso de Guilherme era dengue hemorrágica. Em uma só semana, o jovem foi parar na UTI, onde ficou por quatro dias, com soro na veia o dia inteiro e as plaquetas cada vez mais baixas.

“Ele ficou muito debilitado, mal podia se levantar para ir ao banheiro porque não conseguia andar. Foi um imenso susto. As médicas e enfermeiras foram ótimas, mas creio que meu filho foi salvo por um milagre”, diz Ana Carla.

Variação perigosa

A dengue hemorrágica é uma das variações mais perigosas da doença, podendo levar a óbito caso não seja identificada a tempo. Ela é transmitida da mesma forma que a chamada dengue clássica, por picadas do mosquito Aedes Aegypti. O vírus não é transmitido por alimentos e nem por contato direto com alguém que foi contaminado ou suas secreções.

Nos primeiros sete meses do ano, foram registradas dez mortes por dengue na Bahia. Dessas, nove foram registradas pelo Boletim Epidemiológico de Arboviroses da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), publicado em 1º de julho. A última morte foi divulgada ontem, no município de Alagoinhas, a 120 km de Salvador, e está sendo investigada pela Vigilância Epidemiológica.

Até o momento, oito cidades baianas tiveram óbitos por dengue. São elas: Feira de Santana, Jandaíra, Campo Alegre de Lourdes, Mucuri, Boninal, Mirante, Vitória da Conquista e Alagoinhas.

Entre as mortes consideradas pela Sesab, uma foi classificada pela Câmara Técnica como dengue hemorrágica, duas como febre hemorrágica devido ao vírus da dengue, e os outros seis óbitos transitam entre dengue e dengue grave.

Apesar de serem usados, muitas vezes, como sinônimos, a dengue grave e a dengue hemorrágica têm diferenças. “A gravidade da dengue não é definida apenas pela existência de hemorragias, outras condições também se colocam como gravidade. Por exemplo, um choque, transtornos neurológicos, todos os agravos associados. Por esse motivo, a gente utiliza hoje a nomenclatura dengue grave, porque a dengue grave pode, sim, ter hemorragia, mas ela pode também ter outros problemas”, afirma Márcia, diretora da Vigilância Epidemiológica do Estado.

Sangramentos

Gúbio Soares, coordenador do Laboratório de Virologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), explica que os sintomas de dengue hemorrágica são quase os mesmos da dengue comum. “A grande diferença é que, quando a febre diminui, por volta do terceiro ou quarto dia, surgem hemorragias que causam sangramento de vaso na pele e nos órgãos internos. O quadro clínico se agrava rapidamente, apresentando sinais de insuficiência circulatória, e surgem sinais de alerta, como dores abdominais fortes e contínuas, vômito persistente, pele pálida, fria e úmida, sangramentos pelo nariz, boca e gengiva, manchas vermelhas na pele e comportamento variando entre sonolência, agitação e confusão mental”, afirma.

Ana Carla, mãe de Guilherme, explica que foi o alto número de pessoas com dengue ao seu redor e a falta de cuidados que percebeu na casa vizinha à sua, com grama alta e uma piscina sem uso, que a fizeram ficar alerta para o caso do filho. “Aqui na nossa casa, a gente está sempre fazendo a higienização com água sanitária, sempre observando. O pessoal da dengue visita a gente, nós abrimos as portas, estamos sempre atentos”, conta.

Segundo Soares, o processo após o diagnóstico é uma corrida contra o tempo. “Se não for detectado, o indivíduo morre. Não existe um tratamento específico. O médico deve observar que [a doença] está evoluindo para a dengue hemorrágica, fazer uma reposição de líquido para evitar desidratação e iniciar medidas paliativas no hospital, para evitar que o indivíduo com sangramento vá a óbito”, diz.

Em Salvador, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, foram identificadas 19 ocorrências de dengue hemorrágica em 2023. Um dos casos foi o de Yasmin Cerqueira. A professora de 23 anos contraiu dengue hemorrágica no início do mês passado e, a princípio, não teve sintomas; descobriu a doença ao fazer um exame de rotina e constatar que suas plaquetas estavam muito abaixo do esperado.

A doença passou a se manifestar ao longo de quinze dias: nesse período, dor de cabeça e hemorragias na perna se tornaram comuns. “Eram muitas manchas roxas nas pernas, e as plaquetas baixaram extremamente. Agora, eu estou fazendo uso de corticóide para melhorar a situação dessas plaquetas e usando muito repelente”, relata.

Ocorrências pela Bahia

De acordo com a Sesab, vinte municípios baianos estão, hoje, em epidemia de dengue. São eles: Salvador, Feira de Santana, Acajutiba, Maracás, Aiquara, Mascote, Boninal, Matina, Camaçari, Nova Canaã, Conceição do Almeida, Novo Horizonte, Crisópolis, Rio Real, Rodelas, Governador Mangabeira, Iraquara, Santo Antônio de Jesus, Itagi e Uruçuca. Essa classificação é definida com base na situação das cidades nas últimas quatro semanas epidemiológicas.

Em Feira de Santana, o número de óbitos por dengue grave chegou a quatro no último sábado (8). A vítima mais recente foi um adolescente de 13 anos, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da cidade.

Segundo a SMS, foram registrados 806 casos de dengue este ano, sendo 662 comuns, 136 com sinais de alarme e oito de dengue grave.

A primeira morte por dengue grave no município ocorreu em abril e foi também de um adolescente, de 14 anos, que deu entrada na UPA do bairro Queimadinha apresentando sintomas como febre e vômito. Ele chegou a receber alta, mas voltou à unidade e teve a piora do caso constatada. O jovem chegou a ser entubado, mas não resistiu.

As duas outras mortes por dengue grave no município ocorreram no mês passado, sendo uma mulher de 20 anos e um homem de 36. As equipes dos agentes de endemias intensificaram a eliminação de criadouros do mosquito Aedes Aegypti na localidade em que essas pessoas residiam, a fim de reforçar a proteção dos familiares.

Outras arboviroses

Além dos dados sobre a dengue, o Boletim Epidemiológico da Sesab traz informações sobre a Chikungunya e a Zika, também arboviroses, ou seja, doenças causadas por vírus transmitidos, sobretudo, por mosquitos.

De acordo com o Boletim, nos sete primeiros meses de 2023 foram notificados 12.388 casos prováveis de Chikungunya no estado, o que equivale a uma melhora de 23% em relação ao mesmo período de 2022, quando foram notificados 16.085 casos prováveis. Até o momento, no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) não há óbito confirmado para a doença.

Já em relação à Zika, foram registrados 1.495 casos prováveis na Bahia. No mesmo período de 2022, foram notificados 881 casos prováveis, o que representa incremento de 69,7%. Também não foram confirmados óbitos para Zika em 2023.

Onde encontrar exames

A recomendação da Vigilância Epidemiológica é que, ao notar os sinais, as pessoas procurem a unidade de saúde mais próxima para receber orientações e fazer o exame. Entre os sintomas suspeitos, estão febre e dores de cabeça, no corpo ou nas articulações.

Em casos graves, sintomas como dor intensa e contínua na barriga, vômitos persistentes, queda de pressão, sensação de desmaio, aumento do fígado e sangramento das mucosas devem ser motivos de alerta. Nessas situações, o paciente deve procurar imediatamente as UPAs e Policlínicas Municipais.

Em Feira de Santana, o exame para diagnóstico de arboviroses também está disponível no Ambulatório Municipal de Infectologia, localizado na Rua Professor Fernando São Paulo, nº 911, bairro São João. Para ter acesso, o paciente deve apresentar guia de solicitação, documento de identidade e cartão SUS.

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo. 

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