Alta da Selic torna o crédito imobiliário até 20% mais caro

Escalada dos juros faz comprador adiar sonho da casa própria

Cinco primeiros meses de 2022 registraram queda de 11,7% no número de imóveis financiados com recursos das cadernetas de poupança, em relação ao ano anterior – Foto: Raphael Müller | Ag. A TARDE

As consecutivas altas da Selic têm feito muitos baianos deixarem o sonho de financiar a casa própria para depois. A escalada da taxa básica de juros, que saiu de 2% em 2020 para 13,25% em junho de 2022, está deixando o valor total dos financiamentos imobiliários cerca de 20% mais caro do que há dois anos atrás.

Se em 2020, os bancos cobravam uma taxa de juros em torno de 7% ao ano, hoje a média aplicada pelas instituições financeiras é de quase 10%. A diferença parece pouca, mas o vice-presidente da Associação Nacional de Executivos (Anefac), Miguel de Oliveira, adverte que, no final das contas, o impacto é grande no bolso do consumidor.

“Em altos valores a longo prazo, como é o caso dos financiamentos imobiliários, qualquer alteração (na taxa de juros) traz grande impacto”, afirma. O consumidor vai sentir a alta da Selic no aumento das prestações, no valor total do financiamento e até na renda necessária para o crédito”, explica.

Uma simulação feita pela Anefac a pedido de A TARDE mostra, por exemplo, que um financiamento imobiliário no valor de R$ 650 mil ficou 20,7% mais caro quando comparado com o valor total do mesmo crédito contratado em 2020. Há dois anos, o consumidor pagaria, ao final das 360 parcelas, cerca de R$ 1,31 milhão. Agora em 2022, o valor total para o mesmo financiamento fica em R$ 1,58 milhão.

Os cálculos foram feitos considerando o Sistema Financeiro de Habitação (SFH), que concede ao comprador um crédito de até 80% do valor total do imóvel, para pagar em até 35 anos, com parcelas que não podem ultrapassar 30% da renda do cliente.

O social media Wesley Cerqueira, 25 anos, foi um dos que sentiu a diferença nos preços e precisou mudar os planos. O jovem estava na busca por um imóvel para sair da casa dos pais, fez o planejamento, e na hora da simulação viu os planos irem por água abaixo.

“Tomei um susto quando vi o valor final que pagaria, ia ficar mais do que o dobro do preço do imóvel no final das contas. Cheguei a juntar dinheiro para a entrada e as primeiras parcelas, mas tive que desistir, e agora avalio ir para o aluguel mesmo”.

A procura de Wesley era por um crédito no valor de R$ 300 mil. Segundo simulações feitas pela Anefac, se fechasse o crédito em 2020, o valor total do financiamento sairia por R$ 606 mil. Já firmando o contrato este ano, o total subiria para R$ 713 mil. O valor da primeira parcela também sofreria aumento, de R$ 700 a mais do que se tivesse adquirido o crédito há dois anos.

A orientação do vice-presidente da Anefac é que os consumidores façam como Wesley e esperem mais um pouco. “As taxas subiram, mas não devem permanecer. No próximo ano, o consumidor pode encontrar o país em uma situação melhor, com condições melhores para a própria renda familiar, e ainda taxas mais atrativas”, orienta Oliveira.

“Arrisco dizer que, neste ano, mesmo com essa diferença toda, os bancos ainda não repassaram todo o reajuste da Selic para as taxas de juros. Então, pode subir mais. Mas, para 2023, a expectativa é que a inflação diminua e, com ela, as outras taxas (também)”, avalia.

Oliveira não tem dúvida de que todas essas mudanças acabam impactando na procura por crédito e, consequentemente, afetando o mercado imobiliário. Ele explica que os próprios bancos acabam limitando a demanda, como uma forma de evitar a inadimplência. Elevar a renda necessária para o financiamento é, de acordo com o vice-presidente da Anefac, uma das estratégias utilizadas pelas instituições financeiras para diminuir o risco de não receberem pelo crédito concedido.

Cinco primeiros meses

No caso de Wesley, por exemplo, a renda exigida para o financiamento sairia de cerca de R$ 8,4 mil em 2020 para R$ 10,7 em 2022. Em financiamentos no valor de R$ 450 mil, a exigência gira em torno de R$ 16 mil, quase 21% a mais do que a renda necessária há dois anos. Para financiamentos no valor de R$ 650 mil, a diferença na renda exigida chega a ser de 27%, saindo de R$ 18,2 mil para R$ 23,3 mil, segundo as simulações realizadas pela Anefac.

Os números mostram que toda essa mudança tem impactado o mercado imobiliário. De acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), os cinco primeiros meses de 2022 registraram uma queda de 11,7% no número de imóveis financiados com recursos das cadernetas do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), quando comparado ao mesmo período de 2021. Isso significa uma diferença de 38.700 financiamentos imobiliários.

O montante financiado também registrou recuo de 10%, somando R$ 69,65 bilhões nos cinco primeiros meses deste ano e R$ 77,38 bilhões nos mesmos meses de 2021.

O presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (Ademi), Claudio Cunha, enxerga as taxas de juros como um remédio amargo para o consumidor e para o mercado. Ele defende que “o setor precisa de segurança jurídica e inflação sob controle”.

“Para que (o mercado) possa crescer e levar sempre as melhores opções de moradia para aqueles que buscam comprar seus imóveis”, fala Cunha.

Fonte: A Tarde

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