Petrobras deixa passivo ambiental de quase R$ 600 milhões em 16 municípios onde atuou na Bahia

Foto: Reprodução

A Petrobras levou desenvolvimento, renda e impostos através de sua produção de petróleo ao longo dos últimos 60 anos, desde que os primeiros poços terrestres foram descobertos no início da década de 1960, em Buraçica, região de Alagoinhas, mas sua saída foi desastrosa para a natureza e para cofres das cidades.

O passivo ambiental deixado pela empresa inclui grandes áreas degradadas, rios e nascentes poluídos ou mortos, bacias para depósito de óleo cru abandonadas e muitas áreas onde deverão ser feitos trabalhos de recuperação do solo, recomposição da vegetação nativa e replantio de árvores às margens de rios, lagos e lagoas próximas às áreas de produção.

Os moradores do entorno das áreas degradadas sofrem com o mau cheiro que exala dos locais, muitos deles maiores do que um campo de futebol, os chamados diques, pequenos ou grandes reservatórios utilizados para armazenamento de óleo cru, tratamento e emissão dos resíduos tratados na rede de esgoto, normalmente riachos, lagoas ou rios.

Um estudo preliminar feito pela empresa Renovare Soluções Ambientais aponta que essas áreas degradadas vão levar cerca de dez anos para retomarem seu ambiente natural, pois grande parte das vegetações foi devastada, além da destruição de nascentes e riachos, muitos deles sem a mínima condições de retorno.

“Estamos falando de tratar essa área para as próximas gerações, para os moradores que aqui estão e para mostrar que a empresa que veio produzi tem que ter o compromisso ambiental e devolver o passivo recuperado, não destruído como estamos vendo aqui”, disse Vanderley Soares, diretor da Renovare.

Ele fala que é possível recuperar essas áreas degradadas. Muitos desses postos, segundo ele, já passaram pelo processo de lacração via concreto, mas o entorno ainda está destruído. A lacração em concreto fecha em definitivo o poço, mas seu passivo se espalha pela área, deixando um rastro de abandono e desprezo pela natureza.

Uma das áreas mais degradas entre as 16 cidades pesquisadas é a região de Buraçica, entre Alagoinhas e Catu, mas outras áreas como Santiago, em Catu, e Bálsamo, em Cardeal da Silva, também estão em estado degradante, necessitando passar por recomposição ambiental.

A Renovare está pesquisando junto à Petrobras a existência de uma conta bancária para cada poço perfurado. Essa conta serve ou serviria para a recuperação da área degrada no local e entorno, devolvendo à natureza a sua flora.

Vanderley Soares disse que a flora é possível recuperar grande parte dela, mesmo com o efeito agressivo dos produtos e do tempo em que esses materiais, muitos deles altamente tóxicos, foram armazenados no local, mas a fauna é impossível de se recuperar.

Ele avalia que a região era rica em animais silvestres, preguiças, onças, tamanduás, tatus e cobras, que foram deixando os seus habitats à medida em que as máquinas e sondas perfuratrizes avançavam sobre os terrenos. Muitos desses animais foram parar nas cidades. Já foram feitos registros na imprensa de Alagoinhas da presença de preguiças na área urbana. Uma delas foi vista no interior do 4º BPM, que tratou de acionar os órgãos de defesa do meio ambiente para retornar o animal ao seu habitat.

O maior volume de animais que abandonaram essas áreas de produção de petróleo são as cobras, lagartos e morcegos, animais que são nocivos ao homem e que foram vistos em quintais de muitas residências nas cidades produtoras.

Outro município bastante afetado pelo passivo ambiental deixado pela Petrobras é Entre Rios, a 140 km de Salvador. A Câmara Municipal da cidade realiza amanhã (30) uma audiência pública para debater o assunto.

Presença da Petrobrás foi importante, mas impactou o meio ambiente

A Presença da Petrobrás na exploração de petróleo e gás ao longo dos últimos 60 anos trouxe mudanças significativas na renda e na geração de empregos nos municípios. Antes, esses municípios tinham como principais fontes de renda a agricultura e o comércio local, mas sem grandes perspectivas quanto ao desenvolvimento sócio-econômico.

Com a chegada da Petrobrás houve uma mudança impactante na renda dos trabalhadores, mudando o perfil econômico de muitas dessas cidades. A contratação de trabalhadores sem mão de obra especializada foi outro fator importante. Com a explosão da descoberta de centenas de poços, havia a necessidade de contratação de trabalhadores com muita urgência. Contam alguns petroleiros aposentados que essa contratação era feita nas ruas, nas praças. Os ônibus saíam lotados e chegavam às áreas de produção. Quase ninguém sabia operar uma sonda, perfurar poços ou ligar uma máquina. “A escola era ali, entre novatos, empregados e engenheiros, que tinham a função de ensinar o básico e colocar a engrenagem para funcionar diuturnamente”, disse Antonio Carlos Nunes, que dedicou 30 anos na área de produção.

“Cheguei ao campo de produção como a maioria. Não sabia de nada e nem quanto ia ganhar. Pediram minha carteira profissional, meus antecedentes, endereço, telefone, fiz alguns exames e uma semana depois já estava em campo”, disse ele.

“Não foi fácil, pois quase ninguém entendia nada de petróleo. Era uma coisa nova pra todo mundo e todos tiveram que aprender em campo, na lida, diariamente”, completou.

Ausência da Petrobrás deixa lacuna de serviços e empregos

A ausência da Petrobrás nas 16 cidades –com exceção de São Sebastião do Passé, onde mantém o campo de Taquipe-, deixa uma lacuna muito grande na região.

Embora tenha causado um grande passivo ambiental, a presença da empresa nas cidades gerava muitos dividendos para as cidades e seus trabalhadores. Eram, na grande maioria, os salários mais abastados. Ser petroleiro nas décadas de 60, 70 e 80 era sinônimo de riqueza. Todo petroleiro tinha portas abertas nos bancos para créditos imobiliários, troca de carros e viagens. A economia desses municípios foi aquecida e teve uma mudança muito grande no perfil econômico de cada uma delas.

As primeiras cidades a sentir a ausência da Petrobrás foi Alagoinhas. Ela possuía um grande terreno no centro da cidade e o projeto era fazer do município a sede regional da empresa. Esse projeto foi abortado na década de 1980 e o terreno doado à prefeitura.

Outras cidades como Catu, Entre Rios e Pojuca possuíam sedes em prédios enormes. Nas décadas de 1980 e 1990 esses prédios foram doados às prefeituras e transformados em secretarias municipais.

Outra perda significativa foi no lado social. A Petrobrás mantinha programa de doação de cestas básicas, promovia eventos e festas nas comunidades rurais onde estava instalada.

Prefeituras perdem com ausência da Petrobrás na melhoria das estradas vicinais

A ausência da Petrobrás é sentida em todos os campos. Nos cofres dos municípios das cidades produtoras de petróleo em especial. A Petrobrás promovia melhorias nas estradas vicinais e até em algumas BAs que davam acesso às suas bases de produção.

Essa melhoria incluía a colocação de asfalto, sinalização e iluminação. Esses serviços deixaram de ser prestados pela empresa quando ela começou a vender seus campos maduros, hoje nas mãos de empresas privadas.

As empresas privadas, mesmo fazendo o mesmo percurso e utilizando as mesmas estradas, não fazem melhorias nas estradas, pois consideram ser de responsabilidade de cada município e do estado esse serviço.

Fonte: Jornalista Vanderley  Soares

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