Dia Mundial do Meio Ambiente – 5 de junho

Pesquisas indicam que mais do que preservar é hora de começar a recuperar o que foi destruído; “Década da Restauração” é lançada pela ONU na tentativa estabelecer metas de ação.

Foto: Reprodução

Conservação e preservação são termos recorrentes quando o assunto é meio ambiente, afinal, é mais do que necessário proteger os ecossistemas e garantir o desenvolvimento saudável da fauna e da flora. No entanto, chegamos a um nível tão crítico de devastação que a preservação sozinha não é mais suficiente: é preciso também recuperar áreas desmatadas e degradadas.

Por isso o tema deste dia 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, é “Restauração de Ecossistemas”. A proposta é fazer um chamado urgente para recuperar os ecossistemas danificados, degradados e desmatados, cujos números assustam: de acordo com um levantamento do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente mais de 4,7 milhões de hectares de florestas são perdidos todos os anos no mundo, área maior do que o tamanho da Dinamarca.

  • Relatório “Tornando-se #GeraçãoRestauração: restauração de ecossistemas para pessoas, natureza e clima” destaca que a humanidade está usando cerca de 1,6 vezes a quantidade de serviços que a natureza pode fornecer de forma sustentável
  • ONU pede aos países que cumpram os compromissos de restaurar um bilhão de hectares de terra
  • Pesquisas apontam que cerca de 58,9 milhões de hectares de florestas naturais foram recuperados no mundo desde o ano 2000
  • Cerca de 4,2 milhões de hectares foram recuperados na Mata Atlântica em 21 anos
  • Evento em comemoração ao Dia do Meio Ambiente promove ações que incentivam a recuperação de florestas
Entenda como a restauração de florestas e vegetação natural é importante — Foto: Arte TG

“Degradar e desmatar florestas e suprimir vegetações nativas aumentam drasticamente a chance de novas pandemias, porque teremos mais pessoas caçando, traficando animais e até se alimentando deles. Além disso, a degradação piora a qualidade do solo, a quantidade de nascentes – e consequentemente a qualidade da água; aumenta as chances de deslizamentos, assoreamentos e enchentes e aumenta os efeitos das mudanças climáticas”, explica Renato Crouzeilles, doutor em ecologia e pesquisador associado do Instituto Internacional para Sustentabilidade.

Ele destaca ainda o impacto em outros serviços ecossistêmicos, como a presença de polinizadores. “Plantações de café, por exemplo, produzem muito menos quando estão longe das florestas por conta da ausência dos polinizadores naturais”.

ONU pede aos países que cumpram os compromissos de restaurar um bilhão de hectares de terra

O desmatamento assombra a biodiversidade brasileira — Foto: Ananda Porto/TG

Recuperação da vida

Diante de tantos problemas fica nítida a importância da recuperação de áreas. A grande questão é que os benefícios da prática vão além do âmbito ecológico. “Além de conservar espécies e mitigar os efeitos das mudanças climáticas, a restauração é uma atividade produtiva que gera renda, emprego, cria movimentos ambientais, aborda temas como igualdade de gênero e raça, gera capital natural, engajamento, mão de obra qualificada e capacitação de proprietários rurais. São benefícios múltiplos”, explica Renato.

“O Brasil possui o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa e se comprometeu a recompor 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030. É um dos países que dominam as técnicas de restauração, tendo já recuperado cerca de 700 mil hectares só na Mata Atlântica entre os anos de 2011 e 2015

A Associação Ambientalista Copaíba de Socorro (SP) realiza projetos para recuperar parte de Mata Atlântica através do reflorestamento de propriedades rurais. — Foto: Projeto Copaíba

Para isso ser possível, o especialista elenca pontos importantes que conectam comunidades, universidades, instituições, ONGs, setores públicos e privados. “Para uma restauração acontecer precisamos seguir etapas importantes, começando pela sensibilização dos proprietários e produtores rurais: eles precisam entender os benefícios da recuperação de área e se dedicar a isso. Depois é necessário garantir sementes e mudas suficientes para fazer a restauração, aquecer o mercado e prepará-lo para a oferta de produtos agroflorestais”, diz.

Projeto incentiva produtores rurais a recuperar áreas de mata
“Outra etapa é o planejamento espacial para identificar áreas prioritárias de restauração capazes de gerar esses múltiplos benefícios, buscando sempre soluções ‘ganha-ganha’, seguido pelo monitoramento dessas áreas”, completa o especialista, que destaca o papel das instituições de pesquisa. “Ainda há muito o que estudar e descobrir sobre restauração florestal”, finaliza.

“Restaurar uma paisagem permite reduzir impactos de atividades antrópicas e consequentemente conservar espécies ameaçadas, manter serviços ambientais, mitigar as mudanças climáticas, reduzir a chance de pandemias, aumentar a produção sustentável de alimentos e gerar emprego, renda, educação, pertencimento, inclusão e diversidade

Natureza nos ensina grandes lições, inclusive sobre resiliência — Foto: Pedro Santana/TG

Cálculo de sucesso

Assim como a conservação sozinha não é suficiente para a manutenção dos ecossistemas, as atividades de recuperação de área também não bastam para o equilíbrio ambiental: é necessário proteger florestas maduras ao mesmo tempo em que se recupera áreas degradadas e desmatadas.

“Na Mata Atlântica, por exemplo, detectamos um período de transição florestal, quando há ganho de floresta, ou seja, quando a taxa de recuperação florestal é maior que a taxa de desmatamento. Esse ganho líquido de floresta é muito bom e deve ser a meta de todo projeto de restauração, no entanto, para o cenário ser positivo é necessário um ganho líquido de qualidade”, diz.

A floresta amazônica concentra 81% da disponibilidade de águas superficiais do País — Foto: Arquivo TG

A lógica é simples: recuperar uma área garantindo uma floresta secundária tão rica quanto a floresta madura é missão quase impossível, uma vez que o processo levaria décadas e não necessariamente atingiria as características originais. “Na Mata Atlântica muitas florestas com 30, 50 anos de idade, estão sendo desmatadas e substituídas por florestas jovens. Só que a função exercida por essas novas florestas não é a mesma de uma floresta madura. Por isso, a primeira coisa é proteger para depois pensar da recuperação”, reforça Renato.

“Projetos de restauração costumam ter metas ambiciosas, mas não podemos nos enganar com números de área recuperada ou como ganho líquido. Ainda temos o grande problema do desmatamento para solucionar

Alerta: biomas brasileiros

Outro bioma que preocupa quando o assunto é desmatamento é o Cerrado, considerado o mais ameaçado do Brasil. “Temos aproximadamente 50% de Cerrado, mas a lei o protege pouco e nós temos poucas ações de restauração voltadas a essa área, então muito ainda pode ser perdido”, explica o especialista, que alerta sobre um dado preocupante.

“Temos projeções de que até 2050 perca-se 30% do Cerrado. Se isso acontecer, vamos ter a maior extinção de flora já vista no mundo”, lamenta.

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Quanto ao desmatamento e recuperação de áreas na Amazônia, o pesquisador reforça a importância de entender o significado dos números. “Temos mais de 80% da Amazônia, mas não podemos mais perder quase nada dela. Caso os desmatamentos continuem a funcionalidade da floresta será impactada e afetará todo o ecossistema”.

Ameaçado, o bioma Cerrado é pouco protegido por lei — Foto: Terra da Gente

Dados da recuperação de florestas

Ainda que o processo de recuperação seja demorado, alguns índices despertam esperança e comprovam ser possível restaurar ecossistemas devastados: uma pesquisa publicada pela Trillion Trees (projeto coordenado por três das maiores organizações de conservação do mundo – BirdLife International, Wildlife Conservation Society e WWF) aponta que cerca de 58,9 milhões de hectares de florestas naturais foram recuperados no mundo desde o ano 2000.

Para identificar áreas de floresta regeneradas foram analisados dados de uso e cobertura da terra, imagens de satélite, informações de sensoriamento remoto e feedback de especialistas de 29 países e mais de 100 locais diferentes.

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Os resultados mostram que a maior parte da regeneração ocorreu no hemisfério norte. De acordo com os autores do estudo, a conclusão é reflexo da teoria de transição florestal: as economias em desenvolvimento tendem a ser mais dependentes da agricultura doméstica e das indústrias primárias, portanto, apresentam taxas mais altas de desmatamento. À medida que os países ficam mais ricos, eles se movem em direção às indústrias de manufatura e serviços, liberando terras para regeneração.

Outro dado que chama atenção no relatório da Trillion Trees é a ocorrência de focos de regeneração ao lado de frentes de desmatamento no sudeste da Ásia, na África e no Brasil. A pesquisa aponta a Mata Atlântica como exemplo bem sucedido (ainda que existam menos de 15% da floresta original remanescente), uma vez que cerca de 4,2 milhões de hectares cresceram em 21 anos.

Antes e depois em uma das áreas de reflorestamento — Foto: Divulgação ONG Corredor Ecológico

Dia do Meio Ambiente

A edição de 2021 do evento global – criado em 1974 e que hoje atinge mais de 100 países – será sediada no Paquistão.

Além da campanha “Reimagine. Recrie. Restaure” a data marca o lançamento oficial da Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas 2021-2030, uma espécie de ‘grito de guerra global’ para que governos, empresa e cidadãos façam sua parte na busca por um planeta equilibrado ecologicamente.

Fonte: G1

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